Fotografia em Palavras

visões sobre a prática fotográfica, por Ivan de Almeida

Nossa época e o direito de imagem

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Texto produzido a partir do interessantíssimo debate no blog do Clicio Barroso em seu post “Publicou, Processa”

Inicialmente, este texto foi redigido como resposta no tópico citado, mas percebi ter ficado muito grande e, além disso, de haver nele novas nuances e dimensões que mereceriam postagem independente, principalmente a caracterização do espaço social como inerentemente midiático, espaço no qual cada um de nós pode ser elevado à visibilidade e nessa elevação ocupar o lugar de símbolo, exemplo ou paradigma de algo, nem sempre de algo com que concorda.

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Será o fim da Street Photography?

A fotografia de rua constitui uma das mais caras tradições da fotografia, e alguns dos mais importantes fotógrafos conhecidos têm nela toda a sua produção. Entretanto, pode ser que ela esteja com os dias contados em nossa época, ou que precise passar por grande mudança quanto à atitude do fotógrafo em relação àquilo que fotografa.

O fato é que a “fotografia-no-mundo” tornou-se, nesta nossa sociedade em que as imagens circulam como uma fala, nessa época na qual falamos através de imagens como nunca antes, um problema, pois os sujeitos conscientizaram-se serem o conteúdo das fotografias. Essa conscientização não provém unicamente da prática fotográfica, mas da exposição da vida privada na mídia que hoje acontece, seja nos reality shows, seja na forma reality show que dominou a maneira de fazer televisão e que deu ao homem comum a consciência de viver aquela profecia do McLuhan, de ser famoso por 15 minutos, e de haver valor nessa fama efêmera, valor que é apropriado por outros, seja a televisão que o filma como “caso exemplo” de algum fato, seja no fotógrafo que o mostra, etc.

Nunca mais se recuperará a inocência perdida, pois cada vez mais, em blogs, Orkuts, em páginas de fotógrafos, em Flickr, em tudo isso as imagens circularão, e aquele cidadão pacato, aquele trabalhador pacato sabe que sua imagem circulará por aí sem que ele tenha controle disso. E que, circulando, gerará valor para alguém, para algo, para um site, para qualquer coisa.

Lá na serra, fotografiei um camarada em uma lavoura de tomate, e era manifestada a sua preocupação com o destino das fotos. Contou-me ter uma vez sido fotografado e depois ter sabido que suas fotos apareceram em uma revista ilustrando uma reportagem, e manifestou nisso imensa contrariedade, referindo-se ao episódio como “fizeram-me uma sacanagem”.

É um lavrador, não acesso à Internet, e aparentemente “desconectado”. Mas não quer, e justamente, servir de imagem paradigmática de nada. Não quer que seus dois segundos de fama tenham significado escolhido por outro. As fotos que fiz dele em sua lavoura não postei em lugar nenhum.

Penso que ele está certo. É uma pessoa desconfiada, mas está certo.

Nesse campo, como em todos, só se chega a uma compreensão do problema quando somos capazes de enxergá-lo sob a ótica de outra pessoa, sob a ótica de quem está do outro lado. Do lado do fotografado.

Vejo no discurso dos fotógrafos incapacidade de compreenderem o outro lado. Não vêem a coisa sob a ótica do sujeito da foto, não entendem a relação da pessoa com sua imagem circulando por aí. É compreensível a frustração dos fotógrafos pela ruptura da tradição da fotografia de rua, tão cara em sua tradição, mas é preciso entender o contexto.

Temos de imaginar a situação inversa, da nossa imagem ser usada, e imaginar como nos sentiríamos, se desejaríamos isso, etc. A questão do pagamento mencionada pelos sujeitos muitas vezes é tão somente uma ameaça inibidora mais do que um desejo de obter vantagem.  Ou uma real vontade de punir a apropriação de sua imagem por outro.

A verdade é essa. Na medida em que a vida privada foi praticamente extinta pelo Big Brother verdadeiro, não o programa nem o livro, mas todo o sistema de produção de imagens no qual nos incluímos e que vigia cada coisa da vida coletiva, as leis de proteção da imagem são antídotos para proteger o homem comum dessa máquina voraz.

E a história não volta atrás. É preciso entender isso e ajustar a fotografia às necessidades do tempo, sem querer fazer hoje a fotografia possível há 40 anos atrás. E é preciso descobrir qual fotografia se pode fazer.

Muitas vezes um fotógrafo documenta um grupo ou tribo urbana em eventos determinados, como Cosplayers ou o pessoal de Street Dance e ocorre então ele  fotografar grupos que querem jogar o jogo da imagem, e assim aceitarão a fotografia e a exposição decorrente. Um Cosplayer quer mostrar-se, um grupo de dança de rua quer mostrar-se. A mesma pessoa pode querer mostrar-se como dançarino e não querer mostrar-se quando na padaria comprando pão. É essa escolha que devemos compreender, e entender que hoje cada um conhece a diferença entre sua dimensão social e sua privacidade, como nunca antes.

40 Respostas

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  1. Esses novos tempos que que o Ivan anuncia aqui trará com certeza um empobrecimento das fotografias de rua, pois o olho, e olhar, dos fotografados é essencial para a magia da fotogrfia. Seremos cda vez mais voyers, e cada vez menos “ladrões de almas”…

    Rinaldo Morelli

    21 de outubro de 2009 at 1:06 pm

    • Sem dúvida, Rinaldo. Mas tendo encontrar um modo de trazer na foto a humanidade sem expor a personalidade. Vejo muitos fotógrafos particando cortes, borramentos, como os que fiz nessas fotos ilustradoras do artigo.

      Ivan de Almeida

      21 de outubro de 2009 at 1:33 pm

  2. Esse é um tema que vale um tempo para se pensar. Em julho experimentei situações paradoxas, estive nos interiores de Moçambique e também no centro de Londres, e pude perceber nitidamente a diferença cultural implicada à fotografia de rua, na Inglaterra por diversas vezes fui parado por pessoas que circulavam na rua questionando o porque de eu apontar a camera na direção delas (mesmo que não fossem o foco da fotografia) e em alguns momentos fui forçado a apagar as fotografias (por policiais ou civis), fui recomendado também para que não tirasse de forma alguma fotografia de crianças pois isso poderia ser considerado crime, em contra partida no Moçambique quando algum olho fitava a camera, mesmo que dentro da mochila, uma multidão de sujeitos se formava clamando por fotos “tirá-la patrão, tirá um foto para levar pro Brasil”, a alegria ao ver a foto no display da camera é indescritível, esses não se importavam nem se teria seus 2 segundos de fama ou não, por menos, bastava saberem que estariam contidos no memorycard de um desconhecido qualquer já era motivo de orgulho perantes os demais. Então é possível imaginar que por mais globalizado que o mundo esteja, e a sociedade conscientizada dos porvires da fotografia atual ainda é possível se praticar street photography como nas décadas anteriores no entanto é necessário alterar as localidades, onde se está saturado, está saturado, mas ainda há muitos redutos onde a ingenuidade se mantém até os dias atuais, até que sejam saturados. — Como você já disse, é possível que os dias estejam contados, mas até lá, vamos à rua!

    Filipe

    21 de outubro de 2009 at 1:26 pm

    • Felipe;

      Você por certo percebeu que sua resposta ratifica o dito no artigo, pois a diferença apontada por você é a diferença entre uma sociedade onde a vida já está midiatizada – Inglaterra- e uma sociedade onde isso AINDA não aconteceu.

      Seu comentário é ótimo para esta postagem, pois complementa e dá substância a ela através de exemplos.

      Muito obrigado,
      Abraços

      Ivan de Almeida

      21 de outubro de 2009 at 1:32 pm

    • É…estão ficando para trás os tempos onde o prazer dos personagens era serem fotogrados…nem mesmo ter a foto era importante, mas ser fotografado era o que os alimentavam…

      Rinaldo Morelli

      21 de outubro de 2009 at 1:33 pm

      • Ainda há, Rinaldo, mas para isso é preciso estabelecer relações de muita confiança, e isso não significará, também, que os fotografados concordem com a exibição pública de suas imagens.

        Tenho um monte de fotos interessantíssimas que não mostro exatamente por isso. Alguns dos meus melhores retratos ou cenas.

        Ivan de Almeida

        21 de outubro de 2009 at 1:37 pm

  3. Em lugar público não existe privacidade.
    E fim… não há discussão.

    C laudio Faguindes

    21 de outubro de 2009 at 2:24 pm

    • O problema, Cláudio, é que há discussão, processos judiciais, etc. Não sou eu quem está discutindo isso, é o mundo. Em lugares públicos não há privacidade, mas há direito de imagem.

      O que tento aqui é tão somente investigar qual o fundamento dessa nova e aguda consciência quanto aos direitos de imagem.

      Ivan de Almeida

      21 de outubro de 2009 at 2:39 pm

  4. Filipe disse: “mas ainda há muitos redutos onde a ingenuidade se mantém até os dias atuais…”
    Aí está a razão.
    Acabou-se a ingenuidade.
    Só mesmo em locais onde ela ainda exista encontraremos o prazer de ser fotografado sem a preocupação do uso indevido da foto.
    Nós nos preocupamos com esse uso indevido porque o abuso é instantâneo, fácil anônimo e corre o mundo antes que dele tomemos conhecimento.
    E desfazer o mal feito é praticamente impossível em vários casos.

    Daniel Esser

    21 de outubro de 2009 at 2:42 pm

    • Exatamente. A ingenuidade acabou porque a Aldeia Global nos tornou conscientes das fornteiras entre privacidade e publicidade.

      Ivan de Almeida

      21 de outubro de 2009 at 2:57 pm

  5. Ivan.
    Acho que há um pouco de egoísmo do foto-repórter.
    É cabível entender que as pessoas nao queiram ser fotografadas. Quem deixa-se fotografar quer ser visto, quer se expor, exprimir.
    Não há dúvida de que as fotos de Salgado tiveram mais resultados a seu favor do que a vida sofrida dos retratados.

    carlos

    21 de outubro de 2009 at 3:10 pm

    • Esse é outro viés que termina inviabilizando esse debate. Não cabe aqui julgar o Salgado, de quem sou incondicional admirador e que considero talvez o maior fotógrafo vivo. Sua obra transcende esses julgamentos, e discordo de você nesse ponto, Carlos, ponto que é o fundamento do seu comentário: o Salgado não fotografa o sofrimento, ele fotografa e epopéia humana, a luta humana, a cultura humana em sua diversidade. Muitos vêem isso como sofrimento porque julgam a partir de padrões de classe social e modelo de vida ao qual estão acostumados.

      De todo modo, a fotografia do Salgado tem óbvios propósitos documentais e de reportagem, indiscutíveis, coisa que não se pode dizer da fotografia de todos os que apontam na rua a câmera para desconhecidos.

      Não cabe aqui usar o Salgado como paradigma avocando-o como “se ele pode eu também”, ou, pior ainda “se eu não posso ele também”, pois isso é descompreender a dimensão e o papel do Sebastião Salgado.

      Abraços,
      Ivan
      PS: apaguei o comentário duplicado.

      Ivan de Almeida

      21 de outubro de 2009 at 3:44 pm

      • Ivan, nisso eu discordo.
        “o Salgado não fotografa o sofrimento, ele fotografa e epopéia humana, a luta humana, a cultura humana em sua diversidade.”
        Isso é seu ponto de vista sobre a obra dele, já li sites “direitistas” e de humor que falam que ele na verdade, se prevalece dessas classes menos favorecidas (sob qq angulo elas o são). Nao penso assim, mas as fotos dele pouco contribuiram como denúncia ou geraram debates que tivessem repercussão social, com o tempo se tornaram o que sites como o “Mídia Sem Máscara” debocha: “Glamourização da miséria”.
        Acho mais preocupante a proibição de fotografar em locais públicos do que a repulsa de alguns públicos em serem fotografados
        PS:o mecanismo do wordpress está duplicando meus comentários, pode apagar…

        carlos

        22 de outubro de 2009 at 10:33 am

  6. Ivan,

    Excelente post, que completa e acrescenta profundidade ao meu original; obrigado pelo sempre proveitoso diálogo!

    Abraços,
    clicio

    clicio

    21 de outubro de 2009 at 7:50 pm

    • Sou eu quem agradece, Clicio. Como já lhe disse, alimento-me de diálogo, e já pela segunda vez um post seu me faz desenvolver uma lateralidade do assunto.
      Grande abraço,
      Ivan

      Ivan de Almeida

      21 de outubro de 2009 at 8:36 pm

  7. Pensando nisso proponho um novo modelo de contrato por parte do fotografo. uma espécie de depósito em juízo, caso a foto seja vendida uma porcentagem equivalente ao que um modelo receberia fica depositado em uma conta dedicada ao “modelo” aguardando o interessado.

    @photofixerbr

    22 de outubro de 2009 at 8:34 am

    • Interessante esse viés que propõe.

      Apenas desenvolvendo… Provavelmente, um seguro, como há na medicina, funcionaria melhor.

      Ivan de Almeida

      22 de outubro de 2009 at 2:00 pm

  8. Ivan, concordo plenamente com texto acima, num futuro próximo, não teremos mais os Pierres Verges, os Sebastiões Salgados e tantos outros, daqui a mais um pouco teremos que construir fotografias num mundo virtual para não corrermos o risco de sofremos algum processo.

    Domingos Luna

    22 de outubro de 2009 at 4:56 pm

  9. O colega de conversas sobre fotografia Ricardo Lou respondeu-me no fórum Mundo Fotográfico, em um tópico no qual noticiei a publicação deste artigo, comentando-o sob visão jurídica, advogado que é.

    Achei o comentário interessantíssimo, enriquecedor, e lhe pedi permissão para transpantá-lo para cá, e ele generosamente assentiu. Segue abaixo conforme ele escreveu:

    Transcrição:
    ————————-
    Este é um tema deveras contraditório e muito mau explicado.

    Ser retratato em locais públicos não consiste em uso indevido da imagem do retrato, em casos de registro sócio-cultural-informativo. Aliás é de se frisar bem que aquele que está em local público já declinou-se do direito a privatividade, em bom português, ou privacidade, esta derivada do inglês.

    O que não se pode divulgar são atos que humilhemm ou coloquem a pessoa do retrado em situação vexatória. Excetuando-se tais condições, não se deve falar em uso indevido, pois nos casos citados cuida-se de direitos à intimidade e direito à honra, estes são distintos do direito à imagem e em alguns casos de uso indevido da imagem podem também serem desrespeitados.

    No que caracteriza o uso indevido da imagem, neste caso, tratamos especificamente do uso de imagens de pessoas, esta agressão tem relação única e expecífica no Direito Patrimonial

    Portanto, tem, o fotógrafo, que se preocupar com a destinação em se dará nossas fotos, pois se estas fotos deixarem de ter a condição de obra sócio-cultural-informativa, ou seja, passar a ser utilizada em publicidades com fins lucrativos, estará sujeito a um procedimento judicial de reparação de danos morais e materiais, pois todos temos assegurado o direito à nossa imagem, assim podemos decidir o que com ela iremos fazer, ou seja, neste caso a imagem integra os direitos patrimoniais, apenas e tão somente se, mesmo que a imagem fora feita em lugar público, mas utilizou-se dela para atos lucrativos é que deve ser indenizada a pessoa retratada.

    Nossos Tribunais tem concedido indenização nos casos de não-autorização da exposição da imagem, dada a freqüência com que se tem usado a imagem alheia indevidamente em publicidade, face estes atos terem gerado lucro fácil.

    Assim Antônio Chaves diz a respeito deste tema: “não se pode impedir que outrem conheça a nossa imagem, e sim que a use contra a nossa vontade, nos casos expressamente previstos em lei” (g.n.) in Direito à própria imagem. Revista da faculdade de direito da USP. p.67.

    Como disse este é um tema muito controverso, pois iemos encontrar vários julgados em nossos Tribunais que não pacificam o entendimento da discussão.

    Ivan de Almeida

    23 de outubro de 2009 at 2:40 am

  10. Você sabe Ivan, que minha fotografia é basicamente fotografia de rua – e sempre com elementos humanos, senão quase sempre pra mim perde a graça, rs – mas sempre estive atenta a isso.
    Acho que a questão está e sempre esteve no consentimento, na aproximação quase telepática que deve acontecer, que você sempre tentou passar nos fóruns. Caso não traga o anonimato ao personagem, a foto deve ser consentida, ou pelo menos não expor a pessoa – o que mesmo assim, já é uma invasão. É complicado, mas quando se tentar ser o mais delicado no recorte, o mais respeitoso aquele ser humano: não v~e-lo só como figura, mas como pessoa,o bom senso prevalecerá.
    ótimo texto. como sempre, aliás.

    Luana Ribeiro

    23 de outubro de 2009 at 3:27 am

    • Obrigado pelo comentário, Luana.

      Eu mesmo estou tendo uma nova compreensão da questão após todas essas conversas.

      Ivan de Almeida

      24 de outubro de 2009 at 12:29 am

  11. Obrigado Ivan pelo interesse deste texto que fora escrito e publicado já em “altas horas” no MF.

    Peço desculpas por alguns erros de grafia, pois o avançado das horas, somada as do dia trabalhado causatam tais lapsos, por mais que não se pretenda.

    Como lá no MF lhe disse não conhecia este teu blog, agora que sempre estou a visitá-lo e não por força desta minha parca participação autorizada, mas pelo primor que tens com seus projetos, conhecia o ABC da Fotografia em RAW, agora tornei-me, desde antes da inserção do meu texto. Parabéns por mais este projeto primoroso.

    Abraços
    Ricardo

    Ricardo Lou

    24 de outubro de 2009 at 1:51 am

    • Sou eu quem lhe agradece a gentiliza de deixar-me transcrevê-lo. Daqui a pouco vou procurar editá-lo retirando as truncagens de digitação que indentificar. Assim como você, escrevo diretamente nos formulários de resposta e escrevo rápidamente, então em muitos textos acontecem trocas de letras, etc. É o preço da comunicação rápida, e eu o pago conscientemente.

      Ivan de Almeida

      24 de outubro de 2009 at 12:17 pm

  12. Oi Ivan
    leio sempre seu blog

    mas esse assunto me fêz escrever também…

    o colocar-se no lugar do outro é necessário em TODOS os aspectos da vida…anda tão esquecido;

    o destino que se dará a imagem (muito bem esclarecido pelo texto do sr Ricardo); nunca vexatória, constrangedora;

    imagine a orfandade visual que teremos sem Salgados; e Fatumbis e tantos outros;

    mas me anima a pensar as soluções fotográficas que encontraremos para continuar contando as históras desses brasis que plantam tomates, trabalham em fornos, pescam, dançam sua fé nas ruas…

    eu como a Luana, adoro retratar as pessoas no seu dia-a-dia na poesia do trabalho, na alegria dos amigos ou na solidão do tempo…consentimento sempre, e qdo não existir expor jamais

    abração

    ppaiva

    Paulo Paiva

    29 de outubro de 2009 at 5:10 pm

  13. Ivan, concordo com os pontos colocados em sua análise, masdeixe-me dizer como eu encaro essa questão, até sendo repetitivo, considerando tudo que já foi discutido.

    Não vou encarar as questões legais envolvidas, mas apenas minha ética ao fotografar.

    Eu a princípio não “roubo imagens”, isto é, para mim a figura do “fotógrafo invisível” que não interfere na cena, não existe. Minha lente é a 50mm, portanto todas minhas fotos são tiradas de perto, a pessoa sabe que está sendo fotografada, para que eu tb saiba que há o consentimento tácito do fotografado.

    Mas esse ponto não me causa nenhum “freio criativo”. Se eu enxergar uma boa foto, vou fazê-la e se puder vou publicá-la, porque afinal de contas, é por isso que fotografamos.

    É difícil falar em bom senso, no que pode e no que não pode, porque isso é uma definição temporal e cultural. Lógico que isso não inclui vender a imagem de uma pessoa pra uma propaganda de banco, sem o consentimento dela.

    Ainda com relação ao direito de imagem e privacidade, veja o trabalho do Michael Wolf:

    http://www.photomichaelwolf.com/transparent_city/

    http://www.photomichaelwolf.com/transparent_city_details/

    abçs

    juliokon

    20 de novembro de 2009 at 12:30 am

    • Julio;

      Também fotografo pessoas. Mas à medida em que o tempo passa, cada vez mais sinto isso complicado. Não por seguir uma regra, mas por intimamente me incomodar.

      Os trabalhos mostrados são sensacionais, falam da vida urbana, etc. Em que medida eles podem ser considerados invasivos? Não sei, isso é coisa que será decidida na hora em que algum fotografado resolver questinar a coisa.

      Ivan de Almeida

      20 de novembro de 2009 at 12:44 am

  14. Ivan e Juliokon

    Uma coisa deve ficar bem clara, fazer fotografias de pessoas em locais públicos e de forma a não constrager a pessoa do fotografado e publicá-las em galerias e sites, com a finalidade de mostrar seu trabalho, é bem diferente de usar aquela mesma foto para vender um produto, usá-la indevidamente para ganhar dineiro sem ter que pagar o modelo.

    Uma outra situação que quero expor é que o Direito do Brasil é diverso dos demais países, mormente os que adotaram o Direito Anglo-Saxão, então, digo que se se basear seu trabalho em leis que não sao pátrias, desculpe o termos, mas o “chumbo será grosso”.

    Temos que ter em mente que, o que irá nos clocar no tribunal é a destinação que demos à foto e não o ato de se fotgrafar.

    Está se criando uma plemica muito grande em torno deste assunto e pesquisando mais a fundo, muito improvavelmente irá se encontrar alguém processado por fotografar outrem na rua e não usar aquela foto para fins publicitários.

    É bom dizer que vender uma foto com o rosto de uma ou várias pessoas em locais públicos para jornais e revistas impressas ou eletrônicas, não constitui uso indevido, pois se assim fosse, todos os órgãos de imprensa já teriam fehado suas portas. Excessão feitas a blogs, estes, ainda tem se discutido muito se é ou não assemelhado a órgãos de impresnsa, claro, os que são feitos por não jornalistas com o devido MTb, vez que não há e nunca houve obrigatoriedade de cursar-se uma faculdade para tornar-se jornalista.

    Então, a mídia acaba causando este mau estar entre os fotógrafos e estes acabam não produzindo ou ficando receiosos em produzir fotos de pessoas em locais públicos.

    Finalemte, apenas faço uma ressalva, não vão fazer fotos de carros saindo ou entrando de moteis e hoteis de alta rotatividade, pois no meu entender, ali pode-se ferir o direito à imagem por força da exposição vexatória, pois sempre irão comentar, olha a fulana saindo om o fulano

    Abraços e bons clicks

    Ricardo Lou

    Ricardo Lou

    28 de novembro de 2009 at 2:15 am

    • Ricardo;
      Seus aportes são sempre excelentes. Obrigado.

      Contudo, veja que este meu artigo não quer ou não pretende colocar a questão somente no campo do direito objetivo, mas sim compreender amplamente o fenômeno que está tornando a imagem fotográfica de alguém objeto de atenção social, seja positivadas nas leis para certos casos, seja apenas notado que ali há uma questão. Para mim interessa mais essa questão que o direito, pois a questão implica em colocar-se no lugar do outro, do fotografado, e reparar se a exposição da imagem é sentido como agradável ou desagradável, nos casos onde nossa figura na fotografia é dela um elemento importante -diferentemente da figura na multidão ou no fato público noticiável, cujo interesse é o próprio fato público.

      E minha resposta particular é: sim, o incômodo existe. E seguindo o princípio cristão, mas que não é cristão e sim um reconhecimento da igualdade de sentir entre o outro e nós, isto é, o “não faça aos outros aquilo que não gostaria que fosse feito a si mesmo”, é preciso aceitar que esse incõmodo, mesmo quando não cria questões legais, cria questões de outra ordem.

      Ivan de Almeida

      28 de novembro de 2009 at 4:13 pm

      • Olá Ivan

        Obrigado pelos eleogios.

        Fica muito difícil para quem vive do direito, não analisar testos como este com outro olhar e, se você observar a fundo, divorciando-se de seu entendimento como autor, verá que a questão jurídica está mais cristalina que o seu proprio entendimento, pode também se verificar tal fator nas respostas de muitos dos leitores.

        Mas partindo do seu entendimento sobre sua obra, eu particularmente não me sinto incomodado de fazer fotos de pessoas em locais públicos, mesmo que a pessoa fotografada se dirigir a mim e perguntar Por que você me fotografou? Minha resposta clássica para estas perguntas é curta e grossa -Porque deu vontade! e viro as costas e vou saindo. Já tive situações complicadas em que a pessoa chamou seguranças e policiais que estavam de passagem, as fotos continuaram na minha máquina e eu explico que o local é público e a foto não esta a expor a pessoa a estado vexatório e mostrei a foto ao policial. Teve uma oportunidade em que fomos todos à Delegacia de Polícia e lá a Autoridad Policial, riu e deu um esculacho na fotografada e no policial e eu voltei para casa.

        Claro que foram só 3 casos extremos que fui à Delegacia de Polícia, de resto, no máximo sai um palavrão.

        Talvez para muitos e até mesmo para você isto seja um incomodo tremendo, mas para mim é apenas mais uma explicação que tenho que dar a alguém.

        Não creio que a fotografia de rua esteja sofrendo um declínio, vejo muitas fotos em flickr e outras galerias de fotos de rua, com pessoas de todos os tipos. Creio sim, como afirmei, a mídia no afã de vender mais jornais revistas e ter mais audiência vem com notíciais incompletas ou distorcidas, quando não com notícias de um país onde se diz ter uma justiça perfeitae encarcera uma criança porque um menino de tenra idade deu um beijo no rsoto de outra menida de igual idade, sob alegação de assédio. De um país onde olhar uma mulher na rua com mais ênfase, pode dar cadeia, de um país que sob alegação de ser o guardião do mundo invade outro país e mata velhos crianças, de um país que produz mais filmes de sexo e senduais e não querem que sua população seja encarada como tal.

        Fico ainda com o Direito Romano e Pátrio nesta questão.

        Abraços

        Ricardo

        Ricardo Lou

        29 de novembro de 2009 at 1:30 am

      • Ricardo;

        A questão não é absolutamente eu ficar constrangido de fotografar alguém devido ao medo de alguma reação, nem é questão de fazer a coisa mais ou menos cristalina. Não é porque a resposta é simples ou cristalina que ela é boa.

        Meu constrangimento devém de outra coisa, que é de um sentimento que causar incômodo a outra pessoa é errado, sendo esse incômodo fora das necessidades da vida, fora dos incômodos que meramente a vida social provoca. Se alguém não quer ser fotografado, proque eu fotografaria essa pessoa? Porque imporia a ela esse desagrado?

        Não é uma questão de leis. A lei não inclui tudo o que é certo e o que é errado.

        Eu compreendo o porquê das pessoas não quererem ser fotografadas, e isso me basta.

        Ivan de Almeida

        29 de novembro de 2009 at 2:52 am

      • Resumindo, não me importa muito a questão jurídica. Ela é importante apenas como sintoma de algo. O que me importa é compreender o fenômeno da imagem pública e privada, das fronteiras disso, e do sentimento que isso desperta nas pessoas.

        Seus aportes são interessantes, ilustram partes da questão, mas não é o caso de resumir fenômenos sociais às questões jurídicas. Fenômenos sociais são algo bastante mais amplo.

        Ivan de Almeida

        29 de novembro de 2009 at 2:56 am

  15. Ivan,

    Sem querer ser chato e para não fazer disto uma novela, o Direito nasceu dos fenômenos e tranformações sociais. Apenas para lembrar.

    Abraço

    Ricardo Lou

    Ricardo Lou

    30 de novembro de 2009 at 7:30 pm

  16. Ivan
    Eu até entendo e respeito sua opinião, nem poderia ser de maneira diversa.

    Mas, eu -falo por mim- se me der vontade de fotografar eu fotografo, não fotografo sem um objetivo, tenho alguns projetos, na verdade são tres e quando me deparo com algo que se encaixa, não tenho dúvida, vou e clico.

    Talvez até possa ser errado, também não entrarei neste mérito, se for pensar em quantos aborrecimentos me causam e eu alguns deixo passar e outros tomo atitude, eu não saíria de casa, é or isto que insisti na questão jurídica, meus projetos tem haver com locais públicos, então, me cerco da juridicidade para realizar ou tentar realizar.

    Veja, seria o certo que niguém incomodasse o outro, aí talvez eu não iria incomodar, mas por experiência, incomoda muito mais fotgrafar com uma pessoa com uma compacta sony xyz que com uma profissional ou semi, as pessoas até vem perguntar para que jornal será, sempre não é para uma agência de noticias.

    Tive muito pouco problema em fotografar na rua, por questão pessoal, não fotgrafo medigos ou moradores de rua, só se vier pedir.

    Então, é como falei, creio que a mídia tem muito de culpa por esta situação, deste medo que paira sobre os fotógrafos que não são da prórpia mídia. Chego a pensar que eles querem que as pessoas pensem assim, tenham medo e não façam, com isto, concorrência.

    Abraços

    Ricardo

    Ricardo Lou

    30 de novembro de 2009 at 8:53 pm

  17. Olá Ivan,
    Uns dias atrás postei no BrFoto um tópico sobre a fotografia de rua e as dificuldades encontradas na modalidade. O que pra mim fica mas evidente não é simplesmente esse “fechamento” do publico em respeito a fotógrafos de rua, mas sim a incapacidade dos fotógrafos modernos se adequarem aos tempos e utilizar de técnicas adequadas para praticar esse quase esporte. Li também seu post “Desculpe-me, meu amigo, mas sua fotografia não é tão boa…” e acredito que ambos temas estão relacionado. Se não há dialogo do autor através de sua fotografia, como que o fotografo pode esperar produzir uma imagem sem ser notado, ou com qualidades não técnicas?
    Se você estiver passeando por ai com um canhão de 300mm, dificilmente será um fotografo ninja e sim um intrometido na vida dos outros. É importante ressaltar que todos os grandes da fotografia de rua utilizavam câmeras discretas, em especifico as Leicas rangefinders, e que as apontavam de modo não chamar a atenção a si mesmo. Uma vez que o sujeito da fotografia olha para a câmera, ele passa a incluir na imagem o elemento “fotografo”, ou seja, você não está capturando um momento cotidiano, particular de um outro ser humano, mas sim o dialogo entre o sujeito e você mesmo. Esse simples fato descarta a imagem como fotografia de rua em sua definição mais pura e tradicional.
    Tirando a necessidade de ser rápido, conhecer seu equipamento, e ter um olhar sensível aos traços da sociedade, o principal requerimento para um fotografo de rua é saber tirar a foto sem ser notado. É claro que isso se torna cada vez mais difícil na medida em que publico está perpetuamente preocupado com quem o está observando.
    A pratica de fotografar o publico, congelar aqueles momentos humanos que deixam de existir segundos ou frações de segundos depois, preservar aquela pequena fatia da vida de um alheio, deve ser, ao meu ver, tratada como uma aventura, um desafio.
    Qualquer um consegue tirar a foto de uma montanha, ou um inseto, ou uma modelo que seja tecnicamente boa. Não falta material escrito ou filmado na internet ou prateleiras de bancas de jornal e livrarias direcionados ao treinamento técnico de um paisano que deseja se tornar um fotografo. Pouco desse material ensina a lidar com um outro ser humano despreparado ao ser fotografado, e a maneira no qual se deve fotografar esse sujeito.
    Está mais difícil hoje do que 40 anos atrás? Claro, e a tendência dificilmente mudará.
    É importante também lembrar que os grandes, mesmo grandes, são poucos. Acho que hoje em dia, é muito mais fácil um bom fotografo sumir no meio da “massa” da mesma forma que um bom musico é sufocado pelo “Rebolation” e afins. Se a “massa” quer consumir HDRs de cachoeiras, ou teles de famosos que engordaram, vai consumir essas produções, e aqueles fotógrafos que realmente se destacam, com sorte, se encaixarão no seus próprios nichos e círculos de apreciação fotográfica.

    Um grande abraço
    Frederico Bonatto

    Frederico Bonatto

    21 de março de 2010 at 5:04 pm

    • Frederico;

      Minha opinião é a época e a forma como agora a fotografia vive na sociedade terem mudado definitivamente a fotografia de rua, a ponto de eu mesmo não me sentir bem se uma foto minha expõe alguém além de um mínimo quase despersonalizado. Isso, no meu modo de ver, implica em uma mudança de atitude do fotógrafo de rua.

      Obriga pelo comentário, muito interessante e atento.

      Ivan de Almeida

      22 de março de 2010 at 1:35 pm

  18. Boa Noite, Ivan.

    Descobri seu blog nos ultimos dias e ultimamente nem desligo o computador: leio alguns artigos por dia, as discussões, etc, “fecho” ele e no dia seguinte reabro para continuar lendo outras que ja me interessaram e nao deu tempo.

    Para mim que estou me aventurando na área, tem sido extremamente enriquecedor, me identifico e acredito que levanta questões fundamentais. Neste ponto, porém, tocando o referencial humano, ou seja, o fotografado, não pude me conter e tentar contribuir de alguma forma.

    Creio que hajam outras questões envolvidas quanto ao questionamento ético da coisa.

    Se vivemos, essencialmente, numa época “egoísta” (olhando de forma bem negativista), onde cada vez mais o homem está vinculado a sua própria imagem, ou seja, a defesa de seu reflexo, sua projeção no mundo, concordo com você e entendo seu incômodo, da mesma forma que me incomodo com essa postura das pessoas que vem se intensificando.

    Acho, porém, que esse tipo de atividade pode ser justificada se contornar esses preceitos, ou seja, da foto tirada por princípios estéticos ou apenas como viés de expressão pessoal do fotógrafo.

    Há, como bem disse, o diálogo com o fotografado. Acho louvável o ato de se mostrar a foto para quem foi fotografado e perguntar uma opinião, de forma a tentar enriquecer o resultado final. Mais que isso: acredito que do ponto-de-vista ético uma coisa é você tirar um retrato apenas bonito e passivo, sem implicações sociais, outra, é expor uma situação ou ponto-de-vista a respeito de algo, tratando algum meio(como a vida na cidade, por exemplo), como o que é de fato, ou seja, um fenômeno social, onde se está inserido ( por mais que as vezes tente-se “transparecer” esse fato, o que, sem dúvidas, suscita outras questões).

    Vale ressaltar que o que apoio não é uma anulação do fotógrafo e um alinhamento da foto a interesses apenas do fotografado, muito pelo contrário, o trabalho pode apontar exatamente para a direção oposta: o da denúncia. O que é valido, em termos éticos, é, exatamente, a significação que não “clicheriza”, terminando na superfície da imagem, ou seja, na estetização do cotidiano promoviada pelos meios publicitários.

    um abraço,

    Pedro Cardoso Freitas

    10 de maio de 2010 at 2:39 am

    • Obrigado, Pedro. Seu comentário é bastante interessante, acrescenta modos de ver a coisa.

      Penso ser isso hoje não exatamente um problema -problema seria se tivesse solução, mas não tem- e sim uma injunção de nossa época. Atravessamos a ponte, e deixamos do lado de lá a ingenuidade sobre a imagem dos outros. Isso não volta mais.

      Grande abraço,
      Ivan

      Ivan de Almeida

      10 de maio de 2010 at 8:35 pm

  19. concluindo: o meio social não é algo “simples”, fotografia hoje não é mais “registro” como era ha 50 anos atrás. Aventurar-se pelas ruas é tarefa muito mais complicada e implicada por parte do fotógrafo. Se se escancara esse meio, ou seja, enfia-se de fato a cabeça no vespeiro, há um objetivo contido, e as imagens não flutuarão por ali gratuitas.

    Pedro Cardoso Freitas

    10 de maio de 2010 at 2:43 am

  20. Ola Ivan,

    Muito bacana o artigo, eu só faço fotografia de rua e em muitos paises esta se tornando cada vez mais dificil fotografar, por enquanto aqui do outro lado do globo nao tive problemas.

    abs.

    Ricardson Williams

    13 de agosto de 2011 at 3:22 am

    • Obrigadão, Ricardson

      Ivan de Almeida

      14 de agosto de 2011 at 8:02 pm


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