Fotografia em Palavras

visões sobre a prática fotográfica, por Ivan de Almeida

O Paradoxo da Fotografia Digital em Preto e Branco – parte 1

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O Paradoxo da Fotografia Digital em Preto e Branco
Parte 1 – A estética PB, origem e características.

Ivan de Almeida
novembro de 2010

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Hoje, zanzando pelo Twitter, um twitt do Clicio colocou-me em um rumo de pensamento e esse resultou neste artigo. Uma resposta dele comentava outra do http://twitter.com/victorrabelo falando da atitude, de fato muito corrente, de converter para Preto e Branco fotografias digitais para corrigir erros de cor e outros erros. Como se diz por ái: “Ficou ruim, passa para PB”. Esse twitt fez-me pensar ser a questão merecedora de melhor elucidação.

O fato é ser o Preto e Branco digital uma questão muito escorregadia. Majoritariamente –com exceções- mal resolvida, e majoritariamente mal compreendida. Afinal, a fotografia digital nasce colorida a partir da captura já diferenciada nos canais verde, vermelho, azul por um Sensor Bayer ou Foveon. A conversão para Preto e Branco é uma escolha dentro das aflitivamente inúmeras escolhas possíveis a partir da captura digital.

Este artigo pretende desbravar essa questão. Pretende caminhar a partir de algumas premissas, as quais serão explicadas, e daí será tentado obter um encaminhamento onde a tipicidade digital e a expressão do Preto e Branco sejam amalgamadas.

1)    A fotografia é uma tradição, e o Preto e Branco é um dos núcleos dessa tradição.

Em muitos textos e conversas na rede venho expressando minha maneira de ver: a fotografia é uma tradição. Venho colhendo reações por vezes iradas, como se isso significasse que a fotografia deveria permanecer imóvel e estática, certamente por não ser bem compreendida a palavra tradição.

O que significa uma coisa ser uma tradição?

Tradição vem do latim traditione, significando transmitir. A palavra ainda tem esse uso no ramo do Direito -na venda de um objeto fala-se da tradição, ou seja, dele ser entregue a um novo dono. No campo das atividades humanas, todas as atividades que duram por um período histórico são tradições também. Arte, filosofia, ciência, fotografia, etc. Em todas essas atividades seu passado transmite valores e rumos aos novos praticantes (ou aos praticantes atuais) e eles ao produzirem coisas novas mantém diálogo com o passado.

Isso não significa estagnação, mas sim que os fotógrafos ou os representantes de qualquer outra tradição recebem do passado um conjunto de resultados, práticas, pensamentos, e, quando criam, seja por continuidade, seja por citação, seja por oposição, referenciam-se nesse passado. Uma tradição como a fotografia mantém tensão entre conservação e renovação, e todos os fotógrafos vivem essa tensão. Cada um busca seu particular ajuste entre conservar e inovar. As inovações são ou não acolhidas como válidas pela comunidade fotográfica, e, quando acolhidas, passam a ser a tradição de amanhã.

Como essa tradição é gerada? Pois bem, normalmente nas tradições que são práticas sociais como a fotografia, a filosofia, as artes, há um marco inicial onde certas coisas são fixadas, coisas relativas às condições de início. Essa fixação, bem ou mal, mantém-se historicamente como núcleo daquela tradição. No caso de uma prática artístico-tecnológica, como a fotografia, as condições tecnológicas do início contribuem enormemente para a delimitação desse núcleo da tradição, e no caso da fotografia a fotografia em Preto e Branco foi durante muitos anos a única fotografia possível, práticável.

Assim, por uma contingência tecnológica, a primeira linguagem fotográfica desenvolvida foi a da fotografia em Preto e Branco. Ela desenvolveu-se junto com a própria fotografia, junto com a descoberta dos assuntos da vida humana como bons assuntos, junto com o desenvolvimento da narrativa fotográfica. Não me acho imprudente ao dizer que o estoque das fotografias em Preto e Branco ainda constitui o principal referencial de imagens, narrativas, modelos históricos e de soluções formais para os fotógrafos modernos, os quais, entretanto, estão condenados à produção atual ser inerentemente em cores. Os fotógrafos modernos, tiveram a eles transmitido o bastão da fotografia, e nessa transmissão (tradição), receberam um modelo que foi gerado, em partes muito importantes dele, pela fotografia em Preto e Branco.

Quando o fotógrafo contemporâneo produz em Preto e Branco, quando ele faz das suas fotografias digitais cópias em Preto e Branco, ele está dialogando com essa tradição histórica nascida de uma limitação tecnológica. Não é sem motivo que ele busca fugir da aparência de “preto e branco digital”, que ele por vezes até adicione o ruído que nos tempos da película era um efeito dos grãos mais grossos e sensíveis das emulsões, e agora são usados como citações miméticas. Um das motivações da fotografia digital contemporânea é a mimética da fotografia clássica, como veremos a seguir.

Conquanto, em minha maneira de ver, a mimética nesse sentido de imitar até os defeitos não seja uma boa solução, o referenciar-se na fotografia clássica em PB é inevitável. Seja pela pressão da tradição, seja pela estética do PB que tem condicionantes próprios, ao fazermos PB atualmente estamos nos remetendo a um diálogo com aquilo desenvolvido pela fotografia em sua época clássica.

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2)    Desenho e Pintura e a fotografia em PB e em cores.

Por certo lado, também, a tensão existente entre a fotografia em Preto e Branco e a fotografia em cores repete a tensão que já havia nas artes representativas entre o desenho e a pintura. Evidentemente, grande parte das obras tem características mistas de desenho e de pintura, em algum grau são desenho e pintura ao mesmo tempo (em doses variáveis), conquanto haja artistas puramente pintores como o Monet, e outros com vasta obra de desenho explícito, como o Albert Dürer (embora também tenha pintado). Grosso modo, o pintor é um colorista, para ele os valores das cores são mais importantes do que os valores de contornos das figuras, e o desenhista, ao contrário, busca os valores de contorno. Poderíamos dizer que o desenhista lida com linhas, perímetros e texturas, o pintor com superfícies coloridas.

Essa diferença aparece igualmente na fotografia. A fotografia em preto e branco busca ressaltar o contorno das figuras, a relação figura/fundo, o desenho da cena, enquanto a fotografia em cores em sua forma mais livre lida com superfícies coloridas. A fotografia em PB lida com contrastes tonais e fotografia em cores lida com contrastes de matiz.

Voltando aqui à tradição, o desenvolvimento da fotografia em Preto e Branco -não uma escolha, mas uma injunção tecnológica histórica- fez a fotografia aproximar-se dos valores do desenho, quais sejam os valores de magnificação dos contrastes entre partes, de definição dos contornos, de contraste entre tons. Filtros coloridos, visavam produzir e aumentar a quantidade de desenho de uma fotografia, modificando as relações de contraste entre matizes de intensidades semelhantes.

Assim, mesmo o efeito da granulação ia ao encontro do desejo de desenho na fotografia, tornando mais agudos os contrastes, reforçando a textura de desenho mesmo quando não a textura do objeto retratado. Assim  se foi construindo uma estética do Preto e Branco, uma estética de construção recursiva porque, a partir da identificação pelos fotógrafos do tipo da coisa favorável de se fazer, as emulsões produzidas fariam mais ou menos sucesso e, por sua vez, iriam gerando novos aprofundamentos na mesma abordagem que favoreciam. É notável como é minoritário o ramo das fotografias em PB de baixo contraste.

O resultado disso tudo, das injunções tecnológicas de início, das oportunidades que essas injunções geravam e daquilo que dificultavam, do acostumarem-se os fotógrafos com as possibilidades lingüísticas da tecnologia e disso gerar, por sua vez, novos requisitos para as emulsões aprofundadores dessa linguagem, veio sendo formando esse conjunto da fotografia em Preto e Branco clássica. O filme fotografava em PB, então era mister desenvolver a estética possível a partir disso, a qual é derivada (transmitida) daquela já desenvolvida para o desenho.

Os filmes coloridos criaram novas possibilidades, mas a essa altura já havia um acervo muito poderoso de fotografias em PB, e os fotógrafos não migraram completamente para o colorido, e essa, durante muito tempo, foi vista até com preconceito.

3)    A captura digital é inerentemente colorida.

Porém, a fotografia digital veio trazer uma coisa completamente nova… A captura é colorida. A captura é colorida por uma injunção tecnológica, da mesma forma que nas primeiras décadas da fotografia a captura era em PB por uma injunção tecnológica.

Mas essa nova injunção não é igual à primeira. A primeira era uma injunção em solo virgem. Não havia passado, tudo era a se inventar. Não havia tradição, nada era trazido do passado, a fotografia era nova e todas as soluções novas. Agora, porém, há um passado, um passado brilhante, notável. Um passado que não se pode ignorar, e uma parte enorme desse passado é em Preto e Branco.

Já sem a injunção tecnológica, e ao contrário, usando uma tecnológica que é injuntiva em sentido contrário, o fotógrafo da atualidade recebe a transmissão dos valores formais e das soluções desenvolvidas sob outra moldura injuntiva, e vê-se em uma situação razoavelmente difícil: basicamente essa situação começa na pergunta: Devo ou não fazer fotografia em Preto e Branco, se fotografo em cores? Sendo uma pergunta sobre a validade de transformar uma fotografia, de certa maneira deturpando sua natureza.

Neste ponto, a fotografia em Preto e Branco digital toca a grande questão da fotografia digital: a fotografia digital não é uma fotografia predefinida. A rigor uma foto digital capturada em RAW tem uma faixa de respostas possíveis, de possibilidades, em cores, em tons, em exposição, e não há uma verdade inerente da captura como há em um cromo. Querendo ou não, o fotógrafo faz escolhas e essas escolhas definem uma imagem de saída. Uma das famílias das escolhas possíveis é a família das fotos em Preto e Branco.

Ora, essa condição de ser obra cuja definição é posterior à captura não é afastável. Não dá para o fotógrafo digital refugiar-se em uma baía abrigada na qual não precise escolher, a menos que renuncie a outras tantas coisas da tecnologia digital. Essa escolha é inerente ao processo. Nesse sentido, escolher a saída em PB é tão válido quanto escolher qualquer outra saída. Porém, enquanto as outras saídas mal se referenciam na tradição da fotografia colorida, uma vez que tal tradição não chegou a formar um modelo tão pregnante, a saída em Preto e Branco dialoga com a fotografia clássica feita em película. E o fotógrafo, ao definir a fotografia, querendo ou não, referenciar-se-á nessa tradição.

Há, vejo isso em mim e nos fotógrafos cujos trabalhos acompanho através da rede, três atitudes básicas referentes a essa relação entre a produção de PB digital e a tradição de PB vinda da película. Elas são: mimética, desenvolvimento e novas possibilidades.

Mimética é a tentativa de evocar a aparência das fotos em PB clássicas. Desenvolvimento é o uso de certas técnicas já existentes na tecnologia da película, mas muito mais facilmente realizadas a partir da imagem digital. Novas possibilidades são abordagens que, embora parecidas com aquelas da modalidade Desenvolvimento, são somente permitidas a partir do arquivo digital.

Nenhuma delas acontece sozinha. Mesmo na mimética a nova tecnologia obriga à adoção de novas atitudes. Na prática acontece uma dosagem das três coisas com preponderância de uma delas.

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Este assunto desenvolver-se-á em dois artigos. Este primeiro tratou de certas premissas ocultas que governam a produção da imagem em PB, que a governaram e que continuam a governar, e tratou de certos impasses atuais. O artigo seguinte versará sobre essas três abordagens –mimética, desenvolvimento e novas possibilidades- e sobre algumas questões técnicas a elas referentes.

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Em 9 de fevereiro de 2011 fui questionado sobre o porque da fotografia digital ser inerentemente colorida, visto nesse artigo ter assumido que o leitor conhece o processo de captura digital corrente (sensores Bayer).  Julguei ser útil acrescentar a explicação que postei em resposta em um fórum:

É interessante essa questão, que vou tentar responder agora sobre a diferença essencial entre a fotografia PB e a fotografia digital. Mas não é possível falar sobre isso sem ser técnico.

Embora sensores digitais PB existam, isso significando sensor sem filtragem de cor diferencial por pixel, os sensores usados por nós são matrizes de Bayer. Isso significa que cada pixel é sensibilizado pela luz previamente filtrada por uma só cor, verde, vermelha, azul. A voltagem gerada no pixel não é pela luz pura e simplesmente, mas pela luz filtrada por uma cor. Digamos que uma fonte luminosa com algum matiz incida sobre uma região do sensor atingindo pixels verdes, vermelhos e azuis (ou, dizendo de forma mais extensa, pixels com filtros dessas cores).

Tomeando um desses pixels isoladamente, não podemos saber a intensidade da luz emitida pela fonte luminosa pela voltagem gerada nele. Saberemos apenas que no vermelho (se ele tiver filtro vermelho sobre ele) foi gerada tal voltagem. Aquele pixel, portanto, é um pixel que gera uma voltagem (voltagem não tem cor, por óbvio), mas tal voltagem é indexada à intensidade do vermelho contido no matiz da fonte de luz. Ele é monocromático, e não, como os filmes PB, Pancromático. Caso só os pixels vermelhos fossem aproveitados, não haveria ao final senão o equivalente a uma captura em película com um filtro absolutamente vermelho, e é impossível matematicamente fazer uma inferência tanto quanto ao matiz da fonte luminosa original quanto sobre a intensidade dessa fonte de luz. Uma luz puramente vermelha fraca faria nele o mesmo efeito (voltagem) que uma luz forte predominantemente verde mas com ligeiro amarelado (ou seja, com um tiquinho de vermelho). De posse da voltagem gerada no pixel não podemos saber qual dessas luzes a gerou.

A resposta de voltagem em um pixel refere-se a uma sensibilização de uma só cor. Pode sim ser extraída do RAW (só os pixels vermelhos ou só os verdes, etc, como demonstra o Guillermo Lujik em conversões não-interpoladas http://www.luminous-landscape.com/forum/index.php?topic=39952.0 e aí sim teríamos um sensor “funcionando” em PB, porém ainda assim relativo a uma filtragem de cor determinada, sem podermos saber de fato qual a intensidade da luz que o sensililizou (ou seja, a intensidade no total do espectro).

Porém não é isso que chamamos de captura em PB. Chamamos de captura em PB aquela que é referenciada à intensidade da luz, independentemente do matiz no caso dos filmes Pancromáticos majoritariamente usados. Alguém pode debater sobre esse equilíbrio, sobre o quanto é “fiel” e responsivo a todo o espectro, mas ainda assim um filme pancromático é muito diferente da sensibilização filtrada por cor.

Pois bem, veja que para termos a imagem em PB  usando só um canal de cor tivemos de jogar pelo menos metade do sensor fora. Jogamos fora os pixesl verdes e azuis para aproveitar os vermelhos, e nada podermos inferir da luz verde ou azul a partir deles.

Porém a imagem digital, fora desses processos de exceção que existem em artigos ou exemplos demonstrativos mas não na prática, é uma fusão de vizinhanças monocromáticas cada uma indexada a uma cor. Mesmo para produzir uma imagem em PB é preciso primeiro obter as informações das “casas” vermelhas, verdes azuis, porque só a interpolação dessas pode reconstruir a informação de luminância de uma posição qualquer. Um pixel sozinho não tem tal informação de forma completa. Um pixel sozinho tem apenas a informação de luminância de uma cor do espectro e não do espectro total.

Então, isso significa que para termos uma imagem em PB digital antes é necessário interpolarmos matrizes monocromáticas, cada uma indexada a uma cor. Mesmo considerando que voltagem não tem cor, e que após a digitalização bit também não têm cor, os valores das grades são indexados a cores (a palavra indexado não é perfeita, mas não consegui uma melhor no momento) e não referenciados somente à luminância como em uma captura pancromática em cada pixel.

Por isso é paradoxal a fotografia digital em PB, porque a fotografia digital nasce (nos sensores do mundo real, ou seja, nos sensores Bayer) indexada às cores dos filtros que recobrem os pixels. A interpolação cromática ou demosaico não é uma opção, é obrigatória para obterem-se os valores de luminância de um ponto. Tornar-se PB, portanto, seria como contrariar sua natureza primeva, seria como contrariar essa indexação. A imagem digital primeiro se faz colorida antes de se fazer PB, enquanto o filme PB faz-se PB desde sempre.

Written by Ivan de Almeida

2 de novembro de 2010 às 11:05 pm

24 Respostas

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  1. Ivan,
    Gostei muito desse tópico.
    Comecei a fotografar com as digitais e, embora goste muito do P&B, não consegui bons resultados.
    Aguardo a continuação.
    Abraço,
    Daniel Esser

    Daniel Esser

    3 de novembro de 2010 at 12:23 am

    • Penso, Daniel, que é preciso compreender a fotografia em PB, porque bem ou mal a fotografia digital é uma continuação dela. Vou encarar a continuação, espero que para a semana.

      Obrigado.

      Ivan de Almeida

      3 de novembro de 2010 at 12:32 am

  2. Se a captura não foi boa, colorida ou PB não vai ficar boa, pode melhorar via edição, mas continuará deficiente. A discussão colorido/PB é infindável. Tem fotos que ficam muito bem em PB, outras pedem o colorido.

    Edmundo

    3 de novembro de 2010 at 1:19 am

    • Obrigado pelo comentário, Edmundo. É claro que a fotografia deve ser boa sempre, em PB ou em cores. Nem se discute isso…
      Abraços.

      Ivan de Almeida

      3 de novembro de 2010 at 1:25 am

  3. Excelente artigo Ivan. Tem razao sobre a tradicao PB. Muitas vezes vejo fotos digitais PB que nao parecem PB justamente por estarem distantes do classico PB em filme, com seu caracteristico contraste e enfase nas formas, contornos, texturas.

    Fabio Yamauti

    3 de novembro de 2010 at 3:07 am

    • Obrigado, Fábio.
      Esse é exatamente o ponto do artigo. Não é o caso só de fazer uma fotografia em tons de cinza, mas de seguir uma estética que já tem raízes fundas.

      Grande abraço

      Ivan de Almeida

      3 de novembro de 2010 at 10:51 am

  4. Desculpe a falta de acentuacao. Estou escrevendo do celular.

    Fabio Yamauti

    3 de novembro de 2010 at 3:09 am

  5. Brilhante texto, Ivan – tem dois pontos que eu gosto muito aí: a transmissão da herança fotográfica e o caráter de gema bruta da fotografia digital. Muito se discute, mas apenas se defendem idiossincrasias – sua abordagem clara e isenta é a primeira que vejo, despojada de afirmações tendenciosas e passionais.

    Grande abraço!

    Alex Villegas

    3 de novembro de 2010 at 2:36 pm

    • Muito obrigado, Alex.

      Brigam muito comigo quando falo da fotografia ser uma tradição, como se isso impedisse a renovação. Acho que desta vez consegui explicar melhor isso de ser tradição e de haver inovação, ao mesmo tempo. Creio que vamos construindo as explicações em cada conversa, e chega uma hora em que estão maduras.

      Outra é essa questão da fotografia digital… Ora, fotografo com UniWB, sobrexponho… a foto é em grande parte feita na conversão. Isto não é mais do que assumir totalmente as implicações da tecnologia digital.

      O artigo complementar avançará nisso um pouco mais.

      Grande abraço,
      Ivan

      Ivan de Almeida

      3 de novembro de 2010 at 2:49 pm

  6. Interessante seu artigo Ivan. Tenho tendencia a gostar mais de fotografias ruidosas (por causa de altos ISOs) em P&B. Talvez por essa estetica do P&B analogico. Claro que o resultado nao é o mesmo. Mas me parece que fica melhor que colorido. Afinal de contas, quando optamos pela cor, nao buscamos cores desbotadas. Desta forma, em P&B perde-se somente definição de linhas e curvas. Outra coisa que gostaria de te perguntar é a relação entre o P&B e a atemporalidade, ou seja, a fotografia em P&B seria menos agarrada a uma epoca especifica? Pelo menos para os leigos? Ja que mesmo em P&B existem diferentes esteticas com o passar do tempo?

    Savio

    4 de novembro de 2010 at 3:09 am

    • Obrigado pelo comentário, Savio;

      Certamente a suportabilidade do ruído no PB provém em certa dose da evocação do PB feito em película. Essa seria a mimética sobre a qual falarei no próximo artigo (a segunda parte desse), e a mimética nem sempre é uma tentativa de imitar, mas também um reconhecimento daquilo aceitável ou não com base no costume visual. Não sei se poderíamos falar em intemporalidade, ou melhor, não sei o quanto seria possível falar em intemporalidade sem confundir isso com esse costume visual legado pela tradição fotográfica. Mas é uma boa questão, sem dúvida.Em minha maneira de ver, refere-se à durabilidade de uma obra visual no sentido de não se esgotar para o observador ao longo de reiteradas observações.

      Grande abraço,
      Ivan

      Ivan de Almeida

      4 de novembro de 2010 at 10:27 am

  7. Salve, caro Ivan. Estou passando aqui para parabenizá-lo por essas 2 fotos em PB que postou. As duas são muitos intreressantes, apesar de origens diferentes. Mas só como referência estética – quais me chamaram de imediata atenção e satisfação- deixo um trecho de um filme (em PB) do Lars Von Trier e um outro trecho de Godard, também em PB, para ver as diferenças entre as tonalidades dentro do preto-e-branco. Esses filmes vieram de imediato à minha cabeça, assim que bati os olhos nessas 2 fotos. Aliás, excelentes fotos por oferecerem uma ótima atmosfera e tratamento. Abraços. LVT: http://www.youtube.com/watch?v=3U_2ljQ9sSo&feature=related JLG: http://www.youtube.com/watch?v=SHikpdf8ktM

    Marcelo Voss

    6 de dezembro de 2010 at 8:28 pm

    • Marcelo;
      Muito obrigado. Estou agora finalizando a parte 2 deste artigo, e a parte 2 está me deixando muito feliz porque nessa segunda parte há muita ligação entre técnica e linguagem, há uma coisa indissolúvel entre essas duas instâncias, e gostei dele ter saído assim.
      A primira das fotos deste artigo, essas que você comentou, vejo claramente cinematográfica, mesmo porque é um movimento interrompido com algo poder narrativo.
      Um grande abraço,
      Ivan

      Ivan de Almeida

      6 de dezembro de 2010 at 9:12 pm

  8. Muito maduro este artigo, como é, aliás, a sua tradição, Ivan. Gostei muito.

    Abraço

    José Varela (al-Farrob)

    8 de fevereiro de 2011 at 9:01 pm

    • Muito obrigado, José.
      Um grande abraço

      Ivan de Almeida

      8 de fevereiro de 2011 at 9:03 pm

  9. Acrescentado um trecho explicativo sobre a natureza colorida da captura digital.

    Ivan de Almeida

    9 de fevereiro de 2011 at 11:06 pm

  10. Meu caro Ivan , já reparei que é grande defensor do filme em relação ao digital , pois eu acho que isso é uma discussão inutil porque o digital é a evolução lógica da tecnologia fotografica. Se voçe pensar que aquilo que fotografou ficou em sua memória e quando vai revelar o filme e imprimir em papel o que apareçe não é aquilo que voçe tinha em memória como voçe faz com o filme ??

    Miguel

    16 de fevereiro de 2011 at 3:34 pm

    • Miguel, caríssimo;

      Seu comentário me fez preocupado de ter passado uma idéia que não é a minha. Não sou defensor do filme, aliás praticamente só fotografo com digital, apesar de ter um passado com filme. O que tentei dizer não é nada defendendo o filme, mas sim mostrando que nossa cultura visual foi forjada com o uso do filmePB, então a fotografia em PB digitalquerendo ou não referenciar-se-á na fotografia feita em película. Porque tudo o que fazemos liga-se ao passado da prática fotográfica, nós não escrevemos em uma folha em branco, mas em um universo cultural já anteriormente povoado pela fotografia em PB. Querendo ou não, ela é referência, e o jogo dos fotógrafos de nosso tempo é jogado com essa referência, é um jogo de permanência e de inovação ao mesmo tempo.

      Assim como você, considero inútil debater filmeXdigital. Talvez por outras razões, mas também considero inútil esse debate. Cada um de nós é passageiro da época em que vive, e o rol de oportunidades nossas é delimitado pelo que cada época oferece.

      Obrigado pelo comentário,
      Abraços
      Ivan

      Ivan de Almeida

      16 de fevereiro de 2011 at 3:49 pm

  11. Saudações. Na minha busca sobre o pensamento ao redor do discurso estético do “Preto&branco” encontrei este valioso documento que titula “O Paradoxo da Fotografia Digital em Preto e Branco” e que com agrado li e reli. Interessante o prisma da abordagem, interessantes os comentários expressos. A “discussão” entre PB e Cor e o filme X ou Y sempre me deixou um pouco baralhado. Aí puxo pelas minhas “certezas”, a utilização de um suporte deve ter em conta o resultado final desejado e assim é que fotografando desde muito jovem, 37 anos se passaram, não abandonei a utilização de suportes clássicos com o alvorecer da Fotografia Digital e nem fugi da utilização de sistemas digitais. E é nos sistemas digitais que surge a grande controvérsia. E tudo porque a massificação do consumo de um qualquer sistema digital abriu espaço à democratização da fotografia. Já não era o “fotografe que nós fazemos o resto” mas sim, fotografe e faça o resto. Ora é aqui que surge a questão, alargando-se o consumo da produção de imagens fotográficas, surgiu um mar imenso de atitudes perante a fotografia. E um deles resulta no entusiasmo com que alguns partem ao encontro dessa tradição a preto e branco. Pois se durante décadas a vox-populis referia “Fotografia é a Preto e Branco” e aí contesto. Fotografia como elemento observado é um elemento que permite olhar um determinado momento já passado. Assim surge a primeira razão, Luz e a sua necessidade para vizualizar a recolha e posteriormente o recolhido. ” A Fotografia É O Percurso Da Luz No Tempo” e aí surge a segunda razão, Tempo. A partir destes pressuposto todos os discursos são possíveis e estarão de braço dado com o autor. O formato, o enquadramento, o reenquadramento, a cor ou o preto e branco e todas as opções de densidades e contrastes que lhes estão associados. Mas se sempre assim foi. No preto e branco usamos os filtros de cor para variar os contrastes e os diferentes contrastes de papel. Hoje um programa de tratamento digital propõe uma panóplia de propostas de trabalho que mais não são que os diferentes caminhos outrora seguidos.
    Mas, regressando à questão base. A fotografia a Preto&Branco com sistemas digitais.
    Sim é facto que a recolha no sensor é feita pela recolha de cor. Mas um Fotógrafo que Faz Fotografia, quando Faz Pensa e aí toma opções. Eu próprio com estou a Pensar a Preto&Branco não consigo trabalhar que não seja na opção monocromática do “software” da câmara. Quando trabalho a cores terei as opções respectivas de acordo com o pretendido. E sei que a foto é recolhida a cores (ficheiro RAW) e se p Preto&Branco não me agradar tenho sempre a opção Cor. Pois é inversão de pensamento. E entre a cor e o preto&branco a opção de criação está ligada às características do autor. Ele deve saber o valor dos diferentes discursos, cor ou preto&branco, sendo a cor a leitura visual do humano e a que pode estar ligada a percepção sensorial bem como as questões discursivas do signo e seu significado. O Branco que veste a noite resultará sempre no discurso da pureza ou virgindade quer a fotografia seja monocromática ou a cores, já o vermelho da capa do toureiro ganhará diferente impacto na opção entre cor e preto e branco.
    Peço desculpa se me alonguei mas o tema estimula-me.
    Deixo aqui um convite_ VISITEM:
    http://escritafotografica.blogspot.com/
    http://phototeklassic.blogspot.com/
    http://pinholeiro.blogspot.com/
    Abraço e Obrigado pela atenção de todos.

    António Campos Leal

    6 de maio de 2011 at 10:05 am

    • António, creio que concordamos. É o fotógrafo ao fazer a fotografia que a determinará em cores ou em PB. E se a determina em PB é porque pode fazê-lo, tanto tecnicamente quanto porque filia-se assim a uma tradição da fotografia. Mas, aí está o ponto que quis mostrar neste artigo, é que fazer PB era induntivo, e sendo injuntivo contruiu-se uma tradição de PB, e agora fazer PB é facultativo, é uma escolha onde mais do que apenas escolher se vai de encontro à forma técnica de captura.
      Grande abraço,
      Ivan

      Ivan de Almeida

      15 de maio de 2011 at 2:49 pm

  12. CORRECÇÃO
    “O Branco que veste a noite resultará sempre no discurso da pureza ou virgindade quer a fotografia seja monocromática ou a cores, já o vermelho da capa do toureiro ganhará diferente impacto na opção entre cor e preto e branco.”
    Deve ler-se
    O Branco que veste a noiva resultará sempre no discurso da pureza ou virgindade quer a fotografia seja monocromática ou a cores, já o vermelho da capa do toureiro ganhará diferente impacto na opção entre cor e preto e branco.

    António Campos Leal

    6 de maio de 2011 at 10:09 am

  13. […] artigo é uma continuidade do assunto iniciado no artigo O Paradoxo da Fotografia Digital em Preto e Branco, publicado neste blog em novembro de 2010. Pretendia publicar esta contunuação logo depois do […]

  14. Oi Ivan,
    Artigo notável, adorei a forma como apresentou a relação da fotografia em película e digital, a mimética o desenvolvimento e novas possibilidades. Me encantei com a definição da pintura e desenho e estou completamente de acordo com a obrigatoriedade de novas atitudes diante da nova tecnologia reconhecendo que a referencia da fotografia em película é fato.
    Não vou entrar nas questões técnicas pois delas entendo muito pouco e o que sei foi devido a artigos interessantes que amigos fotografos escreveram e ao longo do tempo fui e ainda sigo aprendendo, porém não posso deixar de dizer um pouquinho de minha experiencia com o PB. Quando a fotografia deixou de ser para mim um clicar encontrei no PB uma linguagem que somente ele pode me dar e no meu caso isto já acontece antes de eu fotografar, as vezes ate mesmo antes de eu pensar em fotografar, a inspiração chega e busco a imagem com ela já pronta em minha cabeça.
    Acho que me encontro na busca de novas possibilidades, não técnicas e sim naquela que melhor transmite o sentimento que quero compartilhar.
    Parabens pelo texto 🙂
    Vou agora ler a parte 2
    abs

    vilmamachado

    6 de março de 2012 at 10:01 am

    • Obrigado, Vilma.

      O PB para quem nasceu para a fotografia na era digital pode ser bem desconcertante, caso não entenda que esse tem uma tradição e uma linguagem desenvolvida através dos tempos na qual, bem ou mal, precisa referenciar-se.

      Obrigado pelo comentário,
      Abraços

      Ivan de Almeida

      6 de março de 2012 at 11:45 am


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